Parte da produção agrícola que foi salva das enchentes agora encontra o obstáculo da distribuição. Os estragos nas estradas dificultam o escoamento e a realização de feiras que tradicionalmente abastecem algumas populações do Rio Grande do Sul. Diante deste quadro, produtores da agricultura familiar vêm realizando esforços para levar alimentos até regiões afetadas pela calamidade climática, enquanto ainda contabilizam prejuízos.
Em Porto Alegre, a Feira Ecológica do Menino Deus foi realizada nesta quarta-feira (15/5), no pátio da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), reunindo agricultores que possuem produtos para comercializar. Na semana anterior não houve condições devido aos alagamentos no bairro e nas vias de acesso dos produtores à capital.
Junato Moreira Coelho, de Morungava, distrito de Gravataí, chegou até o local da feira pelo corredor humanitário construído na entrada de Porto Alegre. Trouxe no caminhão batata-doce, aipim e caldo de cana, culturas pouco afetadas. Mas das hortaliças conseguiu trazer somente 10% do que costuma ofertar em sua banca, pois perdeu quase toda a produção.
A preocupação em relação ao abastecimento segue para as próximas semanas. Coelho estima no mínimo 60 dias para conseguir restabelecer a plantação e ofertar novos produtos, tanto para a feira do Menino Deus quanto para a da Redenção.
Retomada das feiras é comemorada
Algumas produções escaparam e estão começando a chegar novamente aos consumidores. O sítio de Vitor Aradisone em Viamão, com cinco mil galinhas, não foi atingido. A produção de ovos segue normalmente, apesar das quedas de luz, e foi possível encher a banca na feira de quarta.
No entanto, os seis apiários que possui na Barra do Ribeiro estão alagados, com 150 caixas de abelhas. Vitor lamenta que só poderá ver as perdas quando a água baixar.
Além da feira do Menino Deus, o expositor costuma vender semanalmente no Bom Fim, Três Figueiras e Tristeza. Ele comemora que as quatro feiras conseguiram ser realizadas nesta semana, em meio à enchente na capital. Na avaliação do produtor, as chuvas diminuíram o movimento, mas houve bastante procura.
Feira diferente em Porto Alegre
No último sábado (11/05), na Feira Ecológica do Bom Fim, na Redenção, apenas 40% dos produtores tiveram condições de comparecer. Foi feito então um chamado para outros expositores, que proporcionaram uma feira quase completa.
Andressa Domingues representa na capital o produtor Gilmar Bellé, de Antônio Prado. A expositora recebeu muitas mensagens de clientes durante a semana, pois costumam comprar apenas direto do produtor e não estavam conseguindo. Mas desde que começaram as enchentes, quarta-feira (15/05) foi a primeira vez que conseguiram chegar até Porto Alegre para expor.
Os consumidores costumam fazer fila para comprar em sua banca no Menino Deus, que naquele dia estava com pouco movimento. “Das 11h até umas 14h a gente não para aqui, é um fluxo bem intenso. Hoje está muito fraco, é uma feira diferente”, comentou Domingues.
Feira improvisada em Agudo
Em outros municípios, há iniciativas alternativas para fazer chegar alimentos a quem está precisando. Na região Central, o Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Agudo abriu uma feira improvisada em seu prédio. Nela, agricultores do interior do município puderam vender frutas e verduras que salvaram da enchente, levando-as até os moradores da cidade que sofrem com a falta de alimentos nos mercados.
O número de expositores varia a cada dia, pois depende da quantidade de produtos e da disponibilidade dos produtores. Desde o dia 9 de maio, quando iniciou, oito famílias já participaram da feira em Agudo, que segue por tempo indeterminado. A iniciativa conta com o suporte das extensionistas da Emater/RS-Ascar Andriele Wansing e Cláudia Bernardini, que consideram o movimento de consumidores positivo até o momento.
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