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“O crime se profissionalizou por meio das facções”, diz novo delegado regional de polícia

today10/04/2025 60

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Na manhã desta quinta-feira, 10, o novo chefe da 16ª Delegacia de Polícia Regional do Interior (16ª DPRI), com sede em Santa Cruz do Sul, Jader Ribeiro Duarte, concedeu entrevista ao Programa Conexão Regional da Rádio Santa Cruz. Ele substitui Luciano Menezes que desde 2015 comandava a entidade, e apontou os principais desafios relacionados à segurança pública no município e região.

Confira abaixo a entrevista no delegado da 16ª DPRI

RSC – As facções criminosas representam hoje um dos principais desafios para a polícia?

Delegado Jader Ribeiro Duarte – Sem dúvida. Hoje a criminalidade no Brasil ela é basicamente sustentada pelas facções. O crime se profissionalizou, e hoje em dia dificilmente vemos criminosos que vivem do crime por conta própria. Atualmente, necessariamente esse criminoso tem que se identificar com uma facção e pertencer a ela. E é aí começam os problemas, pois participar de uma facção tem um preço muito alto e caro, que muitas vezes pode custar a própria vida. Nós buscamos orientar aqueles jovens que, porventura acham isso interessante ou aventureiro, de que não participem de uma facção, pois é um caminho sem volta. A partir do momento em que se entra na facção, você acaba se tornando uma espécie de ‘arquivo vivo’, pela quantidade de segredos e conhecimentos das ações feitas pelos criminosos, ou seja, nunca mais sai.

RSC –  Sobre esse assunto, quais mudanças precisam ser feitas nos presídios, por exemplo, para impedir que os líderes de facções presos mantenham contato e comandos em suas atividades criminosas?

Delegado Jader Ribeiro Duarte – O mundo do crime hoje é como uma empresa, porém, a pessoa que ingressa nele normalmente se dá mal de todas as maneiras possíveis. A pessoa pode ser presa, muitas vezes tem de arriscar a própria vida e até mesmo pode chegar a morte. E no fim das contas, em termos, quem se dá bem são os líderes. A polícia normalmente consegue chegar até esses líderes, prendê-los, mas infelizmente eles têm acesso ao mundo fora da prisão através das tecnologias, posteriormente dando sequência na sua função como líder criminoso. O caminho para solucionarmos esse problema é uma ruptura total de acesso com o mundo externo. Tem que haver bloqueadores de celular nos presídios, temos de ter um controle maior nas visitas, entre outros fatores, para que ordens emanadas de dentro do presídio não cheguem aqui fora e provoquem o avanço do crime como um todo.

RSC – E quanto à  legislação brasileira, o que precisa mudar? 

Delegado Jader Ribeiro Duarte – A legislação penal e processual penal precisam ser revistas no Brasil. O nosso país precisa se readequar a nova realidade, de que o crime não é mais independente. Na minha concepção, o código penal hoje é inadequado e deveríamos ter toda uma legislação voltada para o crime organizado. Todo o trabalho policial só funciona se nós tivermos um judiciário eficiente e com respostas imediatas, é um trabalho integrado e que precisa estar sintonizado.

RSC – Em relação aos crimes virtuais, quais são os mais comuns?

Delegado Jader Ribeiro Duarte – Os crimes virtuais hoje em dia são talvez os maiores problemas que enfrentamos, ainda mais se tratando de golpes por meio de redes sociais. Esses crimes a distância não precisam de contato físico, eles são realizados através de um computador ou celular, onde o criminoso consegue tirar valores absurdos das vítimas, principalmente de pessoas mais velhas que não têm tanto domínio das tecnologias, porém, todas as faixas etárias estão sujeitas a cair nos mesmos golpes, caso não tenham o devido cuidado. Geralmente esses golpes são aplicados por criminosos que anteriormente praticavam crimes violentes, mas viram a oportunidade através da evolução das tecnologias, ou seja, de uma facilidade maior para praticar golpes.

RSC – Já foi possível observar quais são as característica em relação à segurança pública aqui na região?

Delegado Jader Ribeiro Duarte – Ainda é cedo para fazer uma análise profissional, mas pelo que os meus colegas me transmitiram até aqui, o trabalho da polícia é muito bem feito. Verei com meus próprios olhos ao longo do tempo em que eu estiver praticando a função de delegado, mas confio nos meus colegas que dizem que Santa Cruz do Sul é privilegiada e tem condições de oferecer um bom serviço.

Por: Jonathan Castro

Escrito por Jornalismo Radio Santa Cruz

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