Antes perceptível apenas no horizonte, com efeito na coloração do céu, do Sol e da Lua, agora a fumaça dos incêndios no Brasil e em países vizinhos também é sentida no olfato dos gaúchos. Favorecida pelo vento que sopra do norte para o sul do país, a pluma, uma espécie de conjunto de nuvens de fumaça, com vestígios das queimadas que circula na atmosfera do Rio Grande do Sul tem impacto direto na qualidade do ar e representa riscos à saúde quando inalada.
O corredor de fumaça circula na atmosfera, em uma altitude acima dos 1.500 metros, motivo pelo qual o odor é pouco perceptível na superfície da Terra. Nos últimos dias, a formação de um intenso sistema meteorológico com rajadas de vento de baixo nível favoreceu a circulação dos vestígios das queimadas mais próximo ao solo.
Sob influência do vento, o ar que circula próximo à superfície mistura-se com o ar poluído que habitualmente concentra-se em altas atitudes na atmosfera. Esta diferença térmica e de pressão entre os sistemas meteorológicos favorece que a fumaça chegue ao solo e seja perceptível ao olfato. É o que explica o meteorologista Guilherme Borges, da Climatempo:
— Tem uma interação entre as massas de ar de diferentes temperaturas, que favorece a mistura do ar mais poluído e mais limpo próximo à superfície. Tem um grande transporte de fumaça pelas estradas, principalmente de países vizinhos como Bolívia, Paraguai e norte da Argentina. O vento muito intensificado está favorecendo esse transporte muito efetivo da fumaça ao Rio Grande do Sul.
A chuva também favorece o cheiro mais intenso. Meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel), Henrique Repinaldo explica que a instabilidade traz a fuligem da atmosfera para a superfície, mistura que também resulta no fenômeno da chuva preta.
— A fumaça das queimadas do norte do país está em uma altura elevada, acima de 2.500 metros de altura. Quando há chuva essas partículas de fuligem são trazidas para a superfície e podemos sentir o cheiro — explica.
Ondas de calor, como a que deve elevar a temperatura de Porto Alegre aos 36ºC nesta quarta-feira (11), não têm impacto direto no cheiro da fumaça, mas favorecem o aumento no número de focos de incêndio. Consequentemente, mais vestígios das queimadas são lançados sobre a atmosfera.
Riscos à saúde
A pluma de fumaça concentra altos níveis de material particulado fino no ar, poluente que causa mais danos à saúde. Conhecido como PM2,5 (na sigla em inglês), este material tem diâmetro de 2,5 micrometros – mais fino que um fio de cabelo, para efeito de comparação – e, consequentemente, é inalado com mais facilidade.
— Estes materiais finos são, às vezes, mais perigosos porque penetram melhor nas vias aéreas. Acaba que está todo mundo muito exposto nessas partículas finas, que são tóxicas e muitas acabam se depositando no nosso organismo de maneira irreversível — explicou o pneumologista Marcelo Nogueira, da Santa Casa de Porto Alegre.
Projeção via satélite que analisa a concentração de fumaça sobre a atmosfera, realizada pela agência suíça IQAir, indica que o material fino presente no ar de Porto Alegre entre às 12h e 13h de quarta-feira (11) é 12,8 vezes superior ao nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A qualidade do ar na Capital foi classificada como “insalubre” e “nociva”, com 157 de IQA em uma escala que vai de 0 a 500; quanto maior o número, pior a condição.
Gráfico do Serviço de Monitoramento Atmosférico do Copérnicus, programa europeu de Observação da Terra, mostra a pluma de fumaça sobre o Rio Grande do Sul. Na projeção com dados de satélite, é possível observar, em vermelho, o avanço dos vestígios das queimadas.
Nogueira explica que material fino causa irritação nas vias aéreas e ocasiona efeitos colaterais. Por sua toxicidade, pode causar inflamações e resultar em alterações cardiovasculares e aumentar o nível de pressão arterial.
— A curto prazo é ruim para quem já tem uma doença pré-estabelecida. As pessoas sem comorbidades apresentam reações mais leves como irritação nos olhos, na garganta, nariz e uma tosse seca — analisa Nogueira.
Prevenção
Diante desse cenário, a Secretaria da Saúde de Porto Alegre (SMS) divulgou nesta terça-feira, recomendações para proteger a população dos efeitos nocivos da fumaça. As orientações seguem diretrizes do Ministério da Saúde e visam minimizar os riscos à saúde.
Recomendações para toda a população
- Se tiver sintomas respiratórios, busque atendimento médico o mais rápido possível
- Beber mais água e líquidos para manter o aparelho respiratório úmido e mais protegido
- Se possível, ficar menos tempo em ambiente aberto, durante o dia ou à noite
- Manter portas e janelas fechadas, para diminuir a entrada da poluição externa no ambiente
- Evitar atividades em ambiente aberto enquanto durar o período crítico de contaminação do ar pela fumaça
Recomendações a pessoas com problemas cardíacos, respiratórios e imunológicos
- Manter ao alcance os medicamentos indicados pelo médico, para uso em crises agudas
- Buscar imediatamente atendimento médico se apresentar sinais ou sintomas de piora das condições de saúde após exposição à fumaça
- Consultar o médico sobre a necessidade de mudar o seu tratamento
O comunicado também alerta que grupos como crianças menores de cinco anos, idosos, gestantes, pessoas com doenças respiratórias, diabéticas e hipertensas são os mais vulneráveis e precisam de cuidados redobrados.
Fonte: GZH
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